Skip to main content

O trauma, de forma ampla, refere-se a experiências de sofrimento intensas que ultrapassam a capacidade emocional de enfrentamento e elaboração de uma pessoa, deixando cicatrizes emocionais com impactos duradouros que ressoam ao longo do tempo.

Ele pode influenciar a forma como a pessoa vive e vê o mundo, os outros e a si mesma.

Comumente ele é associado a um evento específico, a uma história muito dolorida, com uma intensidade muito maior do que outras e, por isso, tão marcante e significativa.

No entanto, para além de um evento agudo, o trauma também pode ser resultado de um sofrimento crônico. Vamos diferenciar.

A diferença entre trauma agudo e crônico:

Um trauma agudo pode ser decorrente de eventos isolados e dolorosos, como acidentes impactantes, desastres naturais, perdas abruptas ou situações de violência extrema.

Essa marca pode reverberar profundamente na vida emocional de uma pessoa, gerando uma angústia significativa sempre que algo se aproxima (de forma direta ou indireta) dessa recordação, capaz de reviver a experiência dolorida.

O trauma crônico é forjado em eventos que ocorrem de maneira persistente ao longo do tempo, como abusos físicos, emocionais ou negligência constante.

Essa forma de trauma, que se acumula gradualmente, muitas vezes não tem o caráter alarmante de imediato como o trauma agudo, podendo produzir uma angústia profunda que passa despercebida no momento vivido.

Esse tipo de vivência estabelece um terreno propício para o desenvolvimento de condições psicológicas crônicas, como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), por exemplo – em casos extremos e visíveis, como guerra, ou em casos de negligências e abusos cotidianos, mais difíceis de detectar.

Vamos ilustrar:

O trauma agudo é como uma ferida profunda causada por um golpe súbito, uma lesão que rasga a pele, deixando uma marca intensa e imediata. É o impacto fulminante, a cicatriz que recorda uma dolorosa experiência.

Já o trauma crônico é como um ferimento persistente, uma contusão que, ao invés de se curar, é repetidamente irritada, prolongando o sofrimento e, muitas vezes, parece algo “pequeno”.

É a ferida que não tem tempo de fechar, uma presença constante que teima em lembrar-se a cada toque, ilustrando uma narrativa de dor que se estende ao longo do tempo.

Ambos são testemunhas da vulnerabilidade da carne e deixam seu rastro, mas cada um carrega consigo a história única de como a ferida foi infligida e como ela molda a jornada da cicatrização.

Trauma agudo e crônico

Efeitos:

Eventos traumáticos produzem uma marca emocional capaz de moldar padrões de sentimentos e comportamentos. A manifestação desses padrões não pode ser prevista ou generalizada, pois a dor e a relação com ela é intrinsecamente singular e multifacetada.

No entanto, é possível afirmar que é comum comportamentos protetivos (por vezes saudáveis, por vezes limitantes) em relação à experiência dolorosa – uma tentativa contínua de se proteger daquilo que causou a cicatriz. Outra também comum, é a repetição de situações semelhantes àquela vivida no passado, uma tentativa de elaboração emocional, mas com potencial de re-traumatizar.

A cicatriz emocional deixada pelo trauma não é imutável. Ela compõe a percepção de mundo e o modo de ser de uma pessoa junto com outras experiências e emoções e, dessa forma, pode tanto limitar quanto impulsionar a construção de recursos emocionais. Apesar de um acontecimento passado ser imutável, há possibilidade de construir novos caminhos e recursos para conviver com essas histórias.

Nesse sentido, o trauma está longe de ser categorização clínica; ele é uma experiência existencial profunda, ao mesmo tempo sutil e avassaladora.

O trauma não é apenas um ferimento emocional; ele pode ser um convite à compaixão, à olhar para essas histórias de forma generosa e ampla, transformando os efeitos que ela ainda produz no tempo presente.

Caso tenha ficado com alguma dúvida ou sinta interesse em iniciar acompanhamento psicológico comigo, envie uma mensagem clicando no botão “Fale comigo”.